sexta-feira, fevereiro 29, 2008

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Olha só o que diz Cony na Folha de S. Paulo hoje:

Receita padrão de adultério

Fique sabendo que nenhuma mulher nasce adúltera, como os poetas que nascem poetas

NÃO SUPORTOU mais e foi procurar o amigo escritor. Era amizade antiga, mas distante. De há muito o considerava um péssimo caráter, capaz de cometer qualquer miséria desde que tivesse lucro com uma mulher ou com um assunto que lhe desse inspiração. Aproveitava-lhe a sabedoria, mas evitava contagiar-se com a devassidão de sua vida abominável.
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Ele desejava mudar o nome do prédio onde morava (Babilônia), aconselhara-se com o amigo, haveria uma reunião de condomínio e o escritor incentivou-o, que fosse formidando ao fazer a proposta.
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- Formidando? Quê que é isso?
- Uma expressão clássica, Raul Pompéia usava muito em "O Ateneu", o professor Aristarco era formidando. Significa formidável, feroz, tonitruante.
- É isso aí! Serei formidando!
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A reunião foi numa sexta-feira, à noite, nada teve de formidanda. No sábado, ele voltou ao amigo.
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- Como é? Você foi formidando?
- Formidando uma ova! Foi um desastre!
- Mas por que diabo você quer mudar o nome do prédio?
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Abriu-se. Pela primeira vez na vida, abria-se.
Tinha medo de ser traído. Sabia que as mulheres depois de certa idade sofriam crises, as tentações eram muitas. Ele achava que o nome "Babilônia" era um péssimo agouro. Mas reconhecia que não adiantava mudar o nome do prédio.
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- É. Não resolve mesmo, admitiu o amigo.
- Você seria capaz de dar em cima da minha mulher?
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A pergunta, à queima-roupa, desorientou o escritor, que apesar de cínico não estava preparado para ela.
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- Não. Ela é muito magra.
- Era. Agora engordou um pouco.
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Para ser fiel ao papel de cínico, o amigo novamente admitiu:
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- Bem, se está no ponto, por que não?
- Você gosta de mulher gorda?
- Nada disso. Mas mulher magra foi uma impostura dos costureiros, dos modistas. São, em geral, pederastas. Odeiam a mulher. Querem os homens todos para eles e o melhor modo de eliminar a concorrência é obrigar a mulher a ficar ossuda, sem carnes. As idiotas fazem regime, ficam com as pernas que parecem palitos, a bunda vira uma tábua. Não é à toa que os homossexuais terminam levando vantagens. Agora, veja, as fêmeas bíblicas, a mulher das Escrituras, as mulheres de Renoir, de Rubens, as madonas, a "Fornarina" de Rafael...
- Bem, eu não entendo muito disso, mas acho que você tem razão.
- Uma porrada de razão! Os homens gostam e se casam com mulheres magras para a exibição, o jogo social. Na hora de rebolar na cama, preferem as gordinhas, as falsas magras... Todas as amantes dos meus amigos são assim...
- Eu não tenho amantes, Otávia me basta.
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O amigo ia dizer qualquer coisa, freou-se a tempo.
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- Você acha que sua mulher seria capaz de um adultério?
- Sei lá.
- Bom, em princípio todas as mulheres são capazes disso. Elas têm a matéria-prima do adultério: o sexo e o marido. Falta apenas o beneficiamento, que é o terceiro elemento, o amante, que não é difícil de encontrar. Mas fique sabendo, nenhuma mulher nasce adúltera, como os poetas que nascem poetas. Ela se faz, como os oradores. Ou melhor, o marido é que a faz adúltera.
- Você já cometeu adultério?
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O amigo fingiu que não ouvira bem, mesmo assim tirou o corpo fora:
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- Eu sou solteiro!
- Não é isso que quero dizer. Pergunto se você já cometeu adultério com alguma mulher casada?
- Que eu saiba, não. Não gosto de adultérios. Eles precisam de hotéis sórdidos, exigem códigos ridículos, praticam ritos abomináveis, dificilmente se comete adultério em paz de espírito.
- Isso é necessário? Essa paz de espírito?
- Tanta mulher no mundo, porque escolher uma que pode dar problema?
- O problema pode compensar.
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Calaram-se por um tempo. O escritor ofereceu um uísque.
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- Bem, por hoje chega. Aprendi bastante. Outro dia apareço.
- Você tem lido meus livros? -a pergunta foi também à queima-roupa.
- Não. Otávia acha-os indecentes e eu termino escondendo-os. Na última mudança, sumiram.
- Ainda bem. Qualquer que seja a solução do seu caso, mantenha-me informado. Você pode me dar bom assunto.
Carlos Heitor Cony

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Perturbação

Não é meu. Claro que não. Seria perturbador demais se fosse...
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“Ao vê-lo assim, vestido para ela de um modo tão ostensivo, não pôde impedir o rubor de fogo que lhe subiu ao rosto. Perturbou-se ao cumprimentá-lo, e ele se perturbou mais ainda com a perturbação dela. A consciência de que se comportavam como noivos perturbou-os ainda mais, e a consciência de estarem ambos perturbados acabou de perturbá-los a tal ponto que o comandante Samaritano notou tudo com um trêmulo de compaixão”.
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"O amor nos tempos do cólera"
Gabriel García Marquez

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Meu filho

A noção de que essa página está jogada às moscas tanto no quesito "visitantes" quanto no "idéias" só faz com que as possibilidades de escrever aqui se tornem mais remotas. Isso acontece de uma forma tão contundente que eu nem me dignei a colocar aqui o meu próprio filho, fruto de um trabalho árduo de um ano.
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Portanto, eis aqui o meu grandioso TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO, aliás, o link para baixá-lo...

A grande reportagem "Militância jovem: o fim da anestesia" abranje o universo de alguns jovens que ainda dedicam tempo à atividades políticas partidárias - não subestime o trabalho por isso. Você pode gostar do que vai ler.