quarta-feira, setembro 21, 2005

Um Presente Para Minha Alma

Que eu sou uma pessoa completamente psicótica e obsessiva, muitos dos que me conhecem sabem. Ontem eu achei um doido como eu. Ganhei um presente da Professora Regiane Caminni. Uma crônica. Uma crônica simplesmente fantástica. Uma crônica que retrata minha cabeça, meus pensamentos, minha vida... Peço licença ao autor e aqui, no meu espaço, a posto.

De Gonzaga para Marília
Paulo Mendes Campos
.
Era uma vez, Marília, um homem que não podia esquecer, nem esconder bem escondido, um nome de mulher. Era um homem doido por essa mulher. Por isso, não podia esquecer, nem esconder-lhe bem escondido, o nome. E como ele precisasse escrever de vez em quando o nome dela, passou a fazê-lo em pedaços de papel, mas entre aspas disfarçadas, como se fosse o nome de qualquer edifício, ou dum navio. Depois, Marília, começou a usar cedilhas impertinentes, acentos impróprios, barbaridades ortográficas, inversões de letras, interrogações patéticas, reticências dubidativas... Mas, ça va de soi, Marília, não bastava, e ele costurou o nome por entre o forro do casaco. Sim, costurou. Mas o nome começou a reluzir por toda parte: no teatro, nas páginas do crime, nas colunas sociais, nos letreiros de cinema, nos artigos de perfumaria, nas latas de conservas...
.
O homem doido por uma mulher estava, Marília, ficando era doido de todo. Pelo menos, era o que diziam os vizinhos e os colegas.
.
E ele continuava a esconder o nome dela. Mas, se o escondia nas calhas, as chuvas cantantes o expulsavam; se o ocultava no espelho do banheiro, com sabão de barba, vinham olhos indiscretos espreitar na fechadura; no seu coração, ah, seu coração era como porta giratória, por onde todos entravam e saíam, sem dar a mínima.
.
Marília, o homem teve uma idéia: escondeu uma letra do nome dela na areia de Copacabana, outra na estação do Rocha, outra em Del Castilho, num tronco de goiabeira, outra no lodo duma piscina em Friburgo, outra num programa de cinema, outra no belvedere de Dona Marta, de onde se avista o Rio todo com assombro, Marília. Mas os ventos da cidade juntaram os fragmentos, e um avião no céu escreveu todo o nome com uma fumaça linda, e a televisão lançou um novo chocolate com o nome. Com o nome dela: Marília! Ele passou a ficar mais cauteloso. Só lhe escrevia o nome ao revés, nos banheiros sombrios dos quartos de hotel, no meio da noite, com um cigarro aceso, se por perto não passava ninguém.
.
Ih, numa linda manhã, o nome apareceu escrito na testa mesmo do homem, com as letras todas lá, fluorescentes, como um posto de gasolina na beira da estrada. 0 homem saiu correndo muito tempo, para muito longe, e chorou demais, e esfregou a testa, primeiro com areia, depois com seixos miúdos, depois até com cascalho grosso, e só voltou para casa um pouco antes do amanhecer pálido, pálido, sem um dedo de pele na testa. Mas dessa vez ele dormiu, de tão cansado e triste, e nem sonhou.
.
No dia seguinte, Marília, sabe o que aconteceu? Quando ele sentou na cadeira do barbeiro, o nome estava de novo na cara, agora escrito em cima do lábio, como um bigode maluco. Para esconder o nome, ele deixou crescer um bigode de verdade, como o bigode de seu avô lisboeta. Quase três semanas descansou. Ao fim desse tempo, horrorizado, viu, viu que a sua mão não lhe obedecia mais, desandando a escrever o nome dela em todos os lugares, no dinheiro que recebia mensalmente no guichê, n'O Globo, nas folhas das amendoeiras, nos maços de cigarro, nos cartões de chope, nas toalhas manchadas de restaurante da cidade, nas passagens aéreas de Brasília, nos despachos que enviava à consideração superior. Ele era doido pela mulher, Marília, e tinha medo. Então, ele cavou um buraco bem fundo no fundo do quintal e lá dentro enterrou o nome. Depois rezou. Mas a terra começou a bater de leve como se lá dentro pulasse ainda um gato vivo. 0 bicho não queria morrer, Marília. E o pobre homem, suando frio, nas noites mais longas, ficava jurando que não sabia o nome dela, que tinha se esquecido, que não sabia, jurava que não sabia, nunca mais. Mas o nome, doido, vivido, revivido, partido em pedacinhos, corroído em ácido, queimado no fogo, afogado no mar alto, o nome renascia, pulsava, brotava, respirava, ardia, ressoava, mexia, o nome. E às quatro horas duma segunda-feira, quando ele batia com dois dedos na máquina um expediente, o nome começou a gritar, todo articulado em sua boca, com suas vogais suaves como o leite, com suas consoantes guturais e fricativas, o nome. Foi-lhe concedida uma licença especial para tratamento de saúde, é claro, e o homem embarcou para Buenos Aires a fim de espairecer, ver se olvidava. Em Buenos Aires, no Palermo Chico, apanhou uma bruta pneumonia e teve febre de quarenta, tomou penicilina, quase morreu de choque anafilático, mas não morreu. Ficou bom, bonzinho. Chegou a namorar a enfermeira, à qual costumava dizer, brincando: "Hay momentos en que no sé lo que me pasa." Depois voltou para o Brasil, reassumiu suas funções, até o chefe veio cumprimentá-lo, e esqueceu completamente o nome.
.
Só que às vezes ele ainda se lembra.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Morrer é Assim

Nervosismo
Tremedeira
Coração Acelerado
Pés Inquietos
Caneta que Balança sem Cessar
Olhos que Correm
Respiração Ofegante
Estômago Virado
Vontade de Vomitar
.
Sinto um enfarto ao meu lado, rindo de mim. Ele espera um suspiro pra parar meu coração. Meu pobre coraçãozinho...

quarta-feira, setembro 14, 2005

23/10/2005

Essa é A data.
Strokes (e outros) está na mão!
.
Pena que o governo me sabotou. Fui "sorteada" pra trabalhar nesse maldito plebicito do desarmamento... Mas, pra tudo dá-se um jeito!
.
Isabella e datas: uma combinação que quase sempre dá errado... Obrigada Tander!

terça-feira, setembro 06, 2005

Cabe Aqui.

A Uma Passante

A rua ensurdecedora ao redor de mim agoniza.
Longa, delgada, em grande luto, dor majestosa,
Uma mulher passa, de uma mão faustosa,
Soerguendo-se, balançando o festão e a bainha;
Ágil e nobre, com sua perna de estátua.
Eu, embevecido, inquieto como um extravagante,
Em seus olhos, o céu lívido onde se oculta o furacão,
A doçura que fascina e o prazer que destrói.
Um clarão... Depois a noite! - Beleza fugidia
Cujo olhar me faz subitamente renascer,
Não te verei senão na eternidade?
Alhures; bem longe daqui! Muito tarde! Jamais talvez!
Pois ignoro onde tu foste, tu não sabes aonde vou,
Ah se eu a amasse, ah se eu a conhecesse!

Charles Baudelaire

segunda-feira, setembro 05, 2005

Quase Como Num Filme...

Eu sei que ficou grande, mas, modéstia a parte, ficou bonitinha a short story...

Pasteurizada
.
Ela não sabia quem ele era quando o viu. Não sabia o seu nome. Ela só sentiu que seria especial.
.
Foi em uma festa num lugar bacana. Ela estava indo para o banheiro, ele para pista. Seus olhos se cruzaram simultânea e intensamente. Não importou quantas pessoas entraram entre eles, eles continuaram a procurar um pelo o outro. Ela sentiu, ele também. Ela o queria, ele a queria. E, mais tarde pensou com sua amiga: “ele tem cara de famoso, deve ser da banda tal, será?”. Ela sentia o olhar dele e quando o achava, ele estava realmente olhando. Mas... Cinderella tinha que partir. Ela não viraria abóbora se não fosse, mas estava cansada demais e foi. Foi sem falar com aquele cara misterioso.
.
Em casa ela pesquisou e não encontrou. Ele não era da banda. E agora? Como iria encontrá-lo? Ela nunca mais o veria. Mas porque ela sentia que aquilo não estava certo? Alguns dias depois ela soube.
.
Sua amiga perdeu o emprego numa segunda-feira e na quarta conseguiu um freela pra atender em uma casa durante o show de uma cantora adorada pelos adolescentes. Depois do show de sexta, a amiga liga pra Cinderella: “lembra daquele cara misterioso? Acho que ele É SIM da banda tal, não deu pra ver direito, mas é quase certeza, se você quiser vem amanhã, vai rolar o show de novo, aí você vê com seus próprios olhos”.
.
Sábado chegou rápido e a menina ainda não sabia se iria ao show. Não fez nada o dia inteiro. Jantou com sua mãe e foi tomar banho. Ela não pretendia demorar, mas demorou. Quando viu já eram 8.20 da noite e sua amiga havia dito que o show começaria às 9 horas. Ela então decidiu que iria e correu. Trocou de roupa umas 20 vezes em busca do traje perfeito. Optou pelo simples, sem maquiagem, mesmo assim estava linda. Estava ansiosa e feliz.
.
Ela correu.
.
Chegou e ufa! O show não havia começado. Sua amiga estava no bar, trabalhando e ela ficou esperando, esperando e esperando. Eles estavam muito atrasados. Até que... Eles entraram. Era ele. E ele era o baixista. Ela riu sozinha. Gargalhou. Viveu um sentimento de primeiridade total. Descrever tudo aquilo seria impossível.
.
Ela dançou e dançou. Ele a viu. Ela podia sentir os olhos dele nela, como daquela vez. Ela nem conhecia direito a banda tal. Só sabia que eles eram grandes. Do seu lado estava um garoto, ela puxou assunto. Ele também tinha ido ao show só por causa daquela banda. Então ela perguntou: “você sabe o nome do baixista?”. E não, ele não sabia, afinal o baixista era novo na banda (e então ela entendeu porque não o achou em suas pesquisas falhas). Ela decidiu tentar o camarim, ela poderia usar o fato de que ela e a banda tinham amigos em comum.
.
Acabado o show ela foi pra porta do concorrido camarim. Conheceu mais três meninas loucas pela banda e elas puderam lhe dar a informação tão preciosa. Ele se chamava Ilusão. A garota ficou esperando aparecer alguém até que o guitarrista apareceu. Ela falou com ele que foi muito legal. Ele voltou pra dentro e algum tempo depois ela vê quem mais queria. Ilusão foi chamado pelas três meninas, mas olhou pra ela, e ela riu.
.
Seu coração batia rápido, e ele foi falar com ela. Ele disse que lembrava dela naquele lugar bacana. Que queria ter ido falar com ela, mas que estava bêbado e ficou com medo de falar algo idiota. Ela estava passada. Eles conversaram e sem saber, ela já estava apaixonada. Combinaram de se encontrar depois do show. Ele pegou seu telefone. Ela esperou a amiga sair do trabalho e quando essa saiu, Cinderella falou com Ilusão que disse pra ela ir para o boteco X, que ele estaria lá em alguns minutos. Ela e sua amiga foram.
.
Chegaram e alguns minutos depois ele chegou e sentou ao seu lado. Um suspiro - e mais uma sensação que não poderia ser descrita. E eles conversaram mais. Ele pediu pra ela ir pra casa dele. Eles já estavam de mãos dadas. Ela não podia ir, não queria parecer uma groupie qualquer, ela se sentia diferente dessa vez, queria que aquilo desse certo, afinal o destino tinha colaborado com tudo. Ela não estava lá por causa da fama dele. Ela estava ali porque queria conhecer a pessoa que ele é. Mas ela não podia ir. Além disso, ela ficara de levar sua amiga em casa. Mas ele a convenceu. Não tinha como ela negar. Era lógico que ela QUERIA ir. Então foram os dois, Cinderella e Ilusão, levar a amiga em casa e depois voltaram para casa dele.
.
Mágico pode descrever quase nada do que foi aquilo tudo para aquela menina. Eles chegaram em casa mais ou menos umas 6.30 da manhã. Ficaram juntos, bem juntos até quase 6 da tarde, dormindo, juntos. Tudo pareceu tão natural, tão perfeito. Ao acordar ficou olhando ele dormir. Ela adorou olhá-lo dormindo, ele parecia um anjo. Mas ela precisava ir para casa e foi. Eles fizeram planos de lugares que iriam juntos no futuro. Para ela, eles pareciam certos um para o outro. Mas, ela teve que ir embora.
.
Chegou na sua casa trêmula, feliz, feliz, feliz demais. Tão feliz que ao contar pra um amigo, chorou de felicidade. Ela contou como foi linda a sensação de perceber que ele a enxergou do palco, como ele a olhou da mesma forma, que parecia tão intensa, que a olhara naquele lugar bacana. A parte do olhar foi a mais perfeita, a mais marcante, mas na verdade ela não sabe se foi tão fantástica quanto a parte da história que ele virou para o outro lado da cama e puxou o braço dela para então dormirem abraçados. Foi tudo o máximo. Foi tudo como tudo é e deve ser em um sonho. Pasteurizada. Seja lá o que significar isso, ela se sentia pasteurizada.
.
E agora, passadas 24 horas de quando ela chegou em sua casa, pensando, ela vê o quanto essa perfeição foi “momentânea”. Continua tudo lindo, ela já se percebe apaixonada. Mas ela percebe também que tudo isso, infelizmente, SERÁ SÓ MAIS UMA HISTÓRIA PARA SER CONTADA.